sábado, 25 de fevereiro de 2012



bebidas


Tudo é um processo, inclusive a cultura. Sim, a mudança incide igualmente na cultura, na sua essência: idéia, abstrações e comportamentos.

No Brasil tivemos uma amostra de que a cultura esta em constante mudança, que teve início desde o encontro de indo-europeus, indígenas autóctones e africanos.

São estas as três matrizes formadoras do povo brasileiro, povo mestiço, plural, macroétnico que promovem a busca constante do respeito à alteridade, à cultura do outro como forma de resistência, às injustiças sociais, à discriminação e ao preconceito de várias matizes.

O relativismo cultural foi precocemente percebido pela maioria (oprimidos) do povo brasileiro, mas tardiamente reivindicado, pois todos sabem que não há cultura certa ou errada, e sim, que elas diferem uma das outras em relação a princípios básicos, todavia tem características comuns.

“Toda cultura é considerada como configuração saudável para os indivíduos que a praticam. Todos os povos formulam juízos em relação aos modos de vida diferente dos seus. Por isso, o relativismo cultural não concorda com a idéia de normas e valores absolutos e defende o pressuposto de que as avaliações devem ser sempre relativas à própria cultura onde surgem”. (Lakatos)

O conceito acima tomado como pressuposto justifica a necessidade e o porquê das religiões afro-brasileiras terem como emblema a diversidade, como forma de reconhecimento e legitimação da identidade de cada uma delas, pois são formas diferentes de percepção e vivência de mesmos princípios.

Tomadas analogicamente como cultura, todas as religiões afro-brasileiras são certas (dentro de sua forma de vivenciar e cultuar o Sagrado), e formam sua identidade própria na observação das outras.

É o famoso aforismo: o que sabe de sua cultura quem só conhece a sua cultura? O aforismo é auto-explicativo e joga luzes sobre o porquê da diversidade ser o mote das religiões afro-brasileiras/americanas.

O escopo em voga libera as religiões afro-brasileiras do etnocentrismo, que em ultima instância seria a supervalorização de uma religião afro-brasileira sobre as demais, algo que fere, por princípio, a ética formadora das mesmas.

O que pode ocorrer é a valorização “endógena”, do próprio grupo, algo que favorece o bem estar individual e a integração social na sociedade-terreiro.

Concluímos que todas as religiões afro-brasileiras devem ser entendidas como sendo apenas diferentes e não na relação superior/inferior. Se houver alguma religião que se ache superior ou melhor que as demais, com toda a certeza, não é uma religião afro-brasileira.

Com esta assertiva negamos a possibilidade de fundamentalismos ou absolutismos nas religiões afro-brasileiras, pois sendo pela diversidade jamais podem ser manifestadas por intermédio de comportamento agressivo ou em atitudes de superioridade e até de hostilidade. Também não há esse ou aquele que deseja homogeneizar e muito menos ser hegemônico, um “patriarca” a ser seguido por todos os demais (o que seria absurdo), algo que fere a base formadora e ética das religiões afro-brasileiras.

Não são das religiões afro-brasileiras lideres de seitas inflamados pelo egocentrismo e narcisismo, que desejam ajustar o mundo segundo suas convicções.

Assim precisamos expressar, não porque desrespeitamos tais líderes, mas para reiterar que não são das religiões afro-brasileiras.

Segundo a psiquiatria que tomaremos como pressuposto, se é defrontado com muitos lideres de seita que desejam controlar as ações de seus discípulos, com uma visão delirante de mundo.
É necessário estar atento ao fato de alguém se declarar líder, mormente quando se diz divino, e quando afirma ser o único a conversar com Deus, sendo necessário, pois, destruir esse mundo para criar um novo mundo (Armagedon?!!).

A maioria, segundo alguns tratados de psiquiatria, em especial a psicanálise, possui ego inflado e um desprezo geral pela humanidade. Valoriza somente seu grupo, que segundo eles é privilegiado, em detrimento do “restante” da população planetária.

O ego narcísico (narciso nega tudo que não for espelho) leva os líderes de seita a cometerem várias atrocidades, marcas de uma psicopatia evidente.

No passado recente, tivemos no Japão Shoto Asarrara que tentou envenenar com gás letal os usuários do metrô de Tókio.

O interessante é que todos os líderes de seita têm as mesmas características no inicio de suas pregações milenaristas, salvacionistas e hegemônicas. Todos afirmam ter tido uma revelação divina, julgando-se, pois ipso facto, melhores que os demais mortais. Dizem que precisam espalhar seus ensinamentos, chegando ao ponto de se acharem os únicos enviados de Deus, quando não, o próprio “Deus” (ego inflado).

Muitos deles levados pelo narcisismo distribuem à socapa crueldade, tortura e brutalidade (extremismo) que chocam a sociedade.

A megalomania é um dos fatores que os distingue. Procuram discípulos que inflam ainda mais seus egos, que os adorem como um verdadeiro Deus.

O líder de seita em geral é narcisista que deseja ser elogiado, mas que reage com violência quando contrariado, algo identificador de sua personalidade. Acredita que merece ser tratado de forma especial, pois é melhor que os outros, é o escolhido do próprio Deus (mesmo que na aparência demonstrem o contrário).

Quando citamos tais escolhos à religiosidade imediatamente nos vem à consciência o Templo do Povo, fundado e dirigido por Jim Jones, que infelizmente, induziu mais de 900 pessoas, entre crianças, jovens e idosos a se suicidarem com cianureto.

Após os infortunados acontecimentos que vez por outra assolam, violentando a sociedade planetária, queremos reiterar que as religiões afro-brasileiras são pela diversidade de cultos não havendo, pois, culto melhor ou pior, apenas diferente Por esse motivo sacerdotisas e sacerdotes de todas as religiões afro-brasileiras não fomentam e nem se afinizam a formar dissidências religiosas, e, portanto, felizmente se encontram distanciados de desejarem serem líderes de seitas. Axé!

 Aranauam, Motumbá, Mucuiú, Kolofé, Axé, Salve, Saravá
Rivas Neto (Arhapiagha) – Sacerdote Médico
Blog - Espiritualidade e Ciência


Atabaques


Religiões Afro-brasileiras/Americanas - Diversidade como Inclusão Total


Nas Religiões Afro-brasileiras/Americanas valorizam-se a diversidade, a multiculturalidade, o respeito, o reconhecimento e a valorização da diferença e do outro (alteridade).

Muitos supõem ser esta valorização uma forma de crítica à modernidade, pois a mesma não conseguiu emancipar o homem e sua sociedade por intermédio da razão.

Os críticos, os intelectuais, são tidos como pós-modernistas; sentenciam a falência da razão, pois a mesma não favoreceu a liberação humana, ao contrário racionalizou o controle dos indivíduos, deflagrando formas de opressão que se estabelecem no cotidiano.

No que concernem às religiões afro-brasileiras/americanas, respeitam todas as formas de pensamento humano, todavia não concordam com a linha mestra da pós-modernidade caracterizada pelo anti-humanismo (abandono do sujeito) e ceticismo que se aproxima do irracional. Não obstante, não se nega que a ação humana está sob os guantes da estrutura socioeconômica, como de há muito tem sido denunciada pelas religiões afro-brasileiras/americanas.

Nas religiões afro-brasileiras/americanas não se mantêm a esperança passiva, mas a atividade de uma militância constante na certeza de possibilidade real de mudanças substanciais, manifestas em novos projetos de emancipação da humanidade, onde prevaleça o diálogo como forma de convivência pacífica e justiça social, política e econômica.

Numa ação crescente e madura, os adeptos das religiões afro-brasileiras/americanas têm promovido a divulgação de que  sua vertente principal é a diversidade, é repensar e reatualizar  suas práticas de relacionamentos endógeno e exógeno.

Sim, é histórico que os adeptos das religiões afro-brasileiras/americanas sempre estiveram (mantiveram-nos) apartados, separados, algo que os fragilizava e, ainda na atualidade enfraquecem sua mobilidade social, e principalmente, sua real importância no cenário da cultura e sociedade brasileiras. Nos aspectos religiosos são, ideologicamente, expostos como mero folclore.

Recentemente uma das emissoras da mídia televisiva aberta, reportou-se a Lavagem das Escadas (enredo religioso) da Igreja do Senhor do Bonfim, associando-a de forma pejorativa a uma escola de samba. O pior estava por vir, pois na reportagem anterior haviam mostrado alguns presidentes de escolas de samba sendo detidos em delegacia policial por crime de contravenção. Conclusão: associaram às religiões afro-brasileiras/americanas com o crime, como algo alheio ao bom senso e aos “bons costumes”. Mais uma vez, o preconceito...

Este descaso para os adeptos das religiões afro-brasileiras/americanas tem sua gênese no Brasil colônia. Naquela época não se permitia o encontro de indivíduos de etnias diferentes, pois o que se desejava era conveniente na manutenção do status quo. Aumentavam-se as rivalidades entre eles impedindo que se unissem e combatessem o escravismo. Era só isso!...

Na atualidade não é diferente. Vez por outra se estimula rivalidades entre os adeptos das religiões afro-brasileiras/americanas, pretendendo manter as coisas como sempre foram.

Incita-se discussões estéreis, improducentes e improcedentes que impedem a união, o sentido de pertença e identidade das religiões afro-brasileiras/americanas, adiando a tarefa que a elas competem no cenário de incentivar e proporcionar a mudança social, na defesa dos discriminados e excluídos de todos os matizes da sociedade brasileira.

Mais uma vez a pergunta que não quer se calar: a quem pode interessar tal estado de coisas? A quem? Com toda a certeza não são aqueles que desejam a união (não codificação) a pacificação e uma cultura de paz, com respeito irrestrito a todas as religiões afro-brasileiras/americanas.

Para esses promotores de cizânias deve-se afirmar que não há esse ou aquele “Terreiro”, melhor que os demais. Apenas são diferentes, somente isso. E isso é muito bom. Não há necessidade de concorrência, mas de convivência pacífica que fortalece a amizade, a fraternidade, a identidade (vendo- se no outro) e a pertença.

Reitera-se que não se pode olvidar que variações regionais (espaço) e de várias épocas (tempo) proporcionariam e proporcionam a diversidade, ou seja, diferenças. Há de frisar-se que diferenças são apenas variações de uma mesma coisa, portanto naturais.

Todas as religiões afro-brasileiras/americanas são formas de manifestação da diversidade, e isto significa ter a liberdade de fazer o seu culto segundo seus fundamentos e não desprezar o culto e os fundamentos do outro. O respeito, o reconhecimento de que o outro existe e tem sua real importância no processo da religiosidade.

Aceitar, respeitar e vivenciar a diversidade não significa o individuo mudar seus conceitos ou fundamentos que aprendeu e vivenciou em sua Tradição na Iniciação, pois deve perceber que também ele mesmo, seu ritual faz parte da diversidade, tal qual todos os demais. Portanto viver a diversidade é aceitar e reconhecer o real valor do outro no contexto das religiões afro-brasileiras/americanas.

Todos podem e devem continuar fazendo seus cultos e seguir seus fundamentos o que deve ser natural, todavia não se pode achar que se é melhor que este ou aquele e muito menos alardear que “revelou”, ou resgatou isso ou aquilo, como forma de desejar a hegemonia na religião. Isso é contrário à diversidade, ao reconhecimento do outro e a ética que norteia essa religião.

Tomando como exemplo de religiões afro-brasileiras/americanas, a Umbanda, tem-se na verdade várias “Umbandas”, pois há várias Escolas, cada uma com seus rituais próprios, segundo sua (s) vertente (s) formadora (s) preponderante (s).

A vertente denominada Umbanda Cristã se alicerça em fundamentos próximos ou retirados do kardecismo e Catolicismo. Claro está que há influências de matriz ameríndia ou africana.
A Escola Umbandista (forma de pensar e cultuar os Orixás e Ancestrais) denominada Omolocô tem como vertente principal a matriz africana (mistura angola jejê nagô) tendo laivos do Catolicismo e menor influência Kardecista.

O mesmo acontece com a Umbanda Iniciática ou Esotérica que tem aspectos balanceados das três matrizes formadoras, mas com predominância ritualística da matriz ameríndia, sem descartar a matriz africana e a indo européia.

O mais maravilhoso é que todas têm o mesmo grau de importância, sendo apenas diferentes, atraindo para suas práticas as pessoas mais afinizadas com essa ou aquela matriz. Portanto, não há nexo descaracterizar a Umbanda tentando uniformizá-la ou desejar que uma vertente seja superior ou hegemônica. Isso é impossível na Umbanda, felizmente.

Mais uma vez conclui-se que diversidade é diferença e não desigualdade (hegemonia). Permite que cada um tenha a liberdade de cultuar suas convicções doutrinárias e mágico-liturgicas (toques, rituais), respeitando e reconhecendo a importância de outros grupos.

Os adeptos das religiões afro-brasileiras/americanas estão no inicio do processo do entendimento da diversidade, que deve ser um desafio a ser vencido, um exercício constante, principalmente de não se julgar melhor do que ninguém, ou mesmo querer impor a todos os demais uma forma de ritual.

É necessário, repisa-se, reconhecimento e valorização do ritual dos outros, da forma que cada um deseja fazer e vivenciar as religiões afro-brasileiras/americanas.

Não se pode olvidar que as mesmas são uma idéia que se manifestam em várias linguagens (cultos) e todos com a mesma importância. Isso nos incita a perceber, aceitar e reconhecer como legítimas as múltiplas linguagens das religiões afro-brasileiras/americanas.

No término desse texto em que reiterou-se a necessidade de se vivenciar a diversidade (falou-se demais sobre ela, é hora de vivenciá-la) e para não abortá-la, recordemos a história recente que afirma não ser a sociedade tão democrática como deveria. Portanto, defender a diversidade é assumir uma atitude humanista e política em favor dos que sempre foram marginalizados do poder de se expressar e de se mostrar.

É momento de diversidade sem adversidades. Vamos vivenciá-la? Axé!

Aranauam, Motumbá, Mucuiú, Kolofé, Axé, Salve, Saravá
Rivas Neto (Arhapiagha) – Sacerdote Médico

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