Tudo é um processo, inclusive a cultura. Sim, a mudança incide igualmente na cultura, na sua essência: idéia, abstrações e comportamentos.
No Brasil tivemos uma amostra de que a cultura esta em constante mudança, que teve início desde o encontro de indo-europeus, indígenas autóctones e africanos.
São estas as três matrizes formadoras do povo brasileiro, povo mestiço, plural, macroétnico que promovem a busca constante do respeito à alteridade, à cultura do outro como forma de resistência, às injustiças sociais, à discriminação e ao preconceito de várias matizes.
O relativismo cultural foi precocemente percebido pela maioria (oprimidos) do povo brasileiro, mas tardiamente reivindicado, pois todos sabem que não há cultura certa ou errada, e sim, que elas diferem uma das outras em relação a princípios básicos, todavia tem características comuns.
“Toda cultura é considerada como configuração saudável para os indivíduos que a praticam. Todos os povos formulam juízos em relação aos modos de vida diferente dos seus. Por isso, o relativismo cultural não concorda com a idéia de normas e valores absolutos e defende o pressuposto de que as avaliações devem ser sempre relativas à própria cultura onde surgem”. (Lakatos)
O conceito acima tomado como pressuposto justifica a necessidade e o porquê das religiões afro-brasileiras terem como emblema a diversidade, como forma de reconhecimento e legitimação da identidade de cada uma delas, pois são formas diferentes de percepção e vivência de mesmos princípios.
Tomadas analogicamente como cultura, todas as religiões afro-brasileiras são certas (dentro de sua forma de vivenciar e cultuar o Sagrado), e formam sua identidade própria na observação das outras.
É o famoso aforismo: o que sabe de sua cultura quem só conhece a sua cultura? O aforismo é auto-explicativo e joga luzes sobre o porquê da diversidade ser o mote das religiões afro-brasileiras/americanas.
O escopo em voga libera as religiões afro-brasileiras do etnocentrismo, que em ultima instância seria a supervalorização de uma religião afro-brasileira sobre as demais, algo que fere, por princípio, a ética formadora das mesmas.
O que pode ocorrer é a valorização “endógena”, do próprio grupo, algo que favorece o bem estar individual e a integração social na sociedade-terreiro.
Concluímos que todas as religiões afro-brasileiras devem ser entendidas como sendo apenas diferentes e não na relação superior/inferior. Se houver alguma religião que se ache superior ou melhor que as demais, com toda a certeza, não é uma religião afro-brasileira.
Com esta assertiva negamos a possibilidade de fundamentalismos ou absolutismos nas religiões afro-brasileiras, pois sendo pela diversidade jamais podem ser manifestadas por intermédio de comportamento agressivo ou em atitudes de superioridade e até de hostilidade. Também não há esse ou aquele que deseja homogeneizar e muito menos ser hegemônico, um “patriarca” a ser seguido por todos os demais (o que seria absurdo), algo que fere a base formadora e ética das religiões afro-brasileiras.
Não são das religiões afro-brasileiras lideres de seitas inflamados pelo egocentrismo e narcisismo, que desejam ajustar o mundo segundo suas convicções.
Assim precisamos expressar, não porque desrespeitamos tais líderes, mas para reiterar que não são das religiões afro-brasileiras.
Segundo a psiquiatria que tomaremos como pressuposto, se é defrontado com muitos lideres de seita que desejam controlar as ações de seus discípulos, com uma visão delirante de mundo.
É necessário estar atento ao fato de alguém se declarar líder, mormente quando se diz divino, e quando afirma ser o único a conversar com Deus, sendo necessário, pois, destruir esse mundo para criar um novo mundo (Armagedon?!!).
A maioria, segundo alguns tratados de psiquiatria, em especial a psicanálise, possui ego inflado e um desprezo geral pela humanidade. Valoriza somente seu grupo, que segundo eles é privilegiado, em detrimento do “restante” da população planetária.
O ego narcísico (narciso nega tudo que não for espelho) leva os líderes de seita a cometerem várias atrocidades, marcas de uma psicopatia evidente.
No passado recente, tivemos no Japão Shoto Asarrara que tentou envenenar com gás letal os usuários do metrô de Tókio.
O interessante é que todos os líderes de seita têm as mesmas características no inicio de suas pregações milenaristas, salvacionistas e hegemônicas. Todos afirmam ter tido uma revelação divina, julgando-se, pois ipso facto, melhores que os demais mortais. Dizem que precisam espalhar seus ensinamentos, chegando ao ponto de se acharem os únicos enviados de Deus, quando não, o próprio “Deus” (ego inflado).
Muitos deles levados pelo narcisismo distribuem à socapa crueldade, tortura e brutalidade (extremismo) que chocam a sociedade.
A megalomania é um dos fatores que os distingue. Procuram discípulos que inflam ainda mais seus egos, que os adorem como um verdadeiro Deus.
O líder de seita em geral é narcisista que deseja ser elogiado, mas que reage com violência quando contrariado, algo identificador de sua personalidade. Acredita que merece ser tratado de forma especial, pois é melhor que os outros, é o escolhido do próprio Deus (mesmo que na aparência demonstrem o contrário).
Quando citamos tais escolhos à religiosidade imediatamente nos vem à consciência o Templo do Povo, fundado e dirigido por Jim Jones, que infelizmente, induziu mais de 900 pessoas, entre crianças, jovens e idosos a se suicidarem com cianureto.
Após os infortunados acontecimentos que vez por outra assolam, violentando a sociedade planetária, queremos reiterar que as religiões afro-brasileiras são pela diversidade de cultos não havendo, pois, culto melhor ou pior, apenas diferente Por esse motivo sacerdotisas e sacerdotes de todas as religiões afro-brasileiras não fomentam e nem se afinizam a formar dissidências religiosas, e, portanto, felizmente se encontram distanciados de desejarem serem líderes de seitas. Axé!
Aranauam, Motumbá, Mucuiú, Kolofé, Axé, Salve, Saravá
Rivas Neto (Arhapiagha) – Sacerdote Médico
Blog - Espiritualidade e Ciência
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